Montag, 16. Mai 2022

Interview in Brasilien in portugiesischer Sprache über Emilie Schindler und Steven Spielberg. Der bittere Geschmack von Hollywood. Entrevista en portugues acerca de Emilie Schindler y de como Steven Spielberg la ignoro en todo momento.

 vida digna de filme Como você se lembra de Emilie? Lembro-me dela como uma mulher simples, solidária e muito autêntica, sempre disposta a ajudar as pessoas ao redor e a pensar em como fazer o bem. Desde o início da guerra, esteve ao lado de Oskar Schindler, inclusive quando ele entrou para o Serviço Secreto do Terceiro Reich como espião – condição que ela discordava. A situação era muito difícil para Emilie naquela época, visto que as mulheres não tinham, socialmente, seus direitos reconhecidos. Mas, mesmo assim, ela se impôs. E o ajudava – algo que o filme Enquanto isso, passei a me ocupar com várias biografias sobre Emilie. Não conheci Oskar Schindler (ele morreu em 1974) e não vi de perto a relação entre eles, mas sei que, em 1957, Oskar voltou à Alemanha para cobrar uma indenização por suas fábricas perdidas. Ele considerava retornar para a Argentina, mas isso não aconteceu. Foi a última vez que se viram. Houve uma troca de cartas entre eles durante algum tempo, até que Emilie, em um determinado momento, percebeu que o marido não voltaria e decidiu rasgar todas suas cartas, além de não lhe escrever mais. Como você conheceu Emilie Schindler? Quando a conheci, em 1990, não imaginava a história que estaria cruzando. Não sobre a Segunda Guerra, mas sobre a luta dela por seus direitos contra a “história oficial” relatada em A Lista de Schindler. Na época, eu buscava informações para escrever um livro sobre imigrações na Argentina. Já estava adiantada com minhas apurações, mas, assim que Emilie me descreveu sua parte no salvamento dos judeus, a história sobre a imigração argentina deixou de me interessar, virando livro apenas 20 anos mais tarde. A o salvar milhares de judeus dos campos de concentração durante o Holocausto, o empresário Oskar Schindler (1908-1974) tornou-se um dos grandes personagens da Segunda Guerra Mundial. No entanto, seu reconhecimento se deu mesmo décadas depois, em 1982, quando sua memória foi resgatada pelo escritor australiano Thomas Keneally, em Schindler’s Ark (A Lista de Schindler). Com o sucesso do livro, que fez do autor vencedor do Booker Prize e do Los Angeles Times Book Prize, o legado de Oskar ficou ainda maior pelas mãos do diretor de cinema norte-americano Steven Spielberg, que adaptou sua história para as telas em 1993. A Lista de Schindler, com Liam Neeson como protagonista, conquistou sete estatuetas do Oscar em 1994 e uma receita de mais de 321 milhões de dólares. Porém, apesar dos bons frutos, a versão de Spielberg peca por deixar de lado uma personagem fundamental na vida e na trajetória de Oskar: Emilie Schindler (1907-2001), sua esposa. “Emilie foi uma mulher que esteve ao lado de Oskar desde o começo, não apenas como esposa, mas também como uma pessoa que foi seu braço direito para a salvação de 1.200 judeus em uma das épocas mais tristes da História”, lembra a judia Erika Rosenberg-Band, biógrafa de origem alemã e uma de suas grandes amigas. Da Argentina, onde mora, conversou com a AVENTURAS NA HISTÓRIA. entrevista Por Fábio Previdelli Tratada com desdém na obra A Lista de Schindler, de Steven Spielberg, Emilie Schindler tem trajetória de vida tão importante quanto a do marido, defende a biógrafa Erika rosenberg-ba

de Spielberg não mostra. E ela ajudou polacos e judeus também, ao menos a sobreviver. Escondeu-os, lhes deu de comer e os auxiliou com medicamentos, mesmo sabendo que, a qualquer momento, poderia ser descoberta pela SS e executada, tanto ela quanto seu marido. Qual o principal ensinamento que Emilie te deu? Emilie me ensinou muitas coisas, todas importantes. Sobretudo que temos de buscar o caminho da consolidação e da compreensão entre pessoas de diferentes religiões. Quando nos conhecemos, demonstramos, por nosso caminho no mundo, que esta compreensão entre judeus e cristãos era possível fora do contexto político. Quando Oskar e Emilie foram para a Polônia, Schindler não tinha, em um primeiro momento, a intenção de salvar judeus. Ela teve alguma interferência nesta mudança? Como conseguiram isso? Eles começaram a salvar judeus já em 1938. Quando o Exército alemão invadiu a República Tcheca, em 1º de outubro daquele ano, os primeiros perseguidos pelos nazistas foram os judeus, que decidiram fugir para a Polônia Rafael WO sem saber o que lhes LLMANN / Getty Images “Quando conheci Emilie Schindler, em 1990, logo demonstramos, por nosso caminho no mundo, que a compreensão entre judeus e cristãos era possível fora do contexto político” Aventuras na história 51 entrevista Por Fábio Previdelli esperava. Então Oskar os transportava escondidos no porta-malas de seu carro e Emilie fazia exatamente o mesmo. Conseguiram isso, aliás, porque tiveram sucesso em se esconder e escapar da SS e da Gestapo. Por outro lado, tinham imunidade porque ela também trabalhara no Serviço Secreto. Ambos eram espiões duplos. Emilie chegou a salvar judeus sem a ajuda de Oskar Schindler? Em janeiro de 1945, quando a guerra estava perto do fim, um transporte com 120 judeus chegou à fábrica quando Oskar não estava. Se Emilie não aceitasse os presos, o comandante iria fuzilá-los. Ela fez com que descessem do trem... dizia que eram como esqueletos, que não pesavam nem 30 kg. Emilie os alimentou e salvou a vida deles. Por que os dois fugiram da Polônia após o fim da guerra e por que escolheram a Argentina? Em 1944, Berlim resolveu fechar o campo de trabalho em Plaszow, na Cracóvia, e todos os fabricantes tiveram que mudar suas fábricas de lugar. Os Schindler se mudaram para o que hoje é a República Tcheca. Após o fim da guerra, foram para a Baviera, na Alemanha, onde ficaram até 1949. Depois vieram para a Argentina por um convite, um oferecimento, da comunidade judia como agradecimento ao ato da salvação dos 1.200 judeus. Como Emilie se via a partir dos atos que fez? Como uma heroína ou como uma pessoa que fez o que deveria fazer? Emilie nunca se vangloriou de suas ações. Quando lhe perguntei se havia sido uma heroína, me respondeu que nem ela e nem Oskar haviam sido heróis e que só fizeram aquilo que humanamente teriam que fazer. Para mim, era uma mulher que atuou com muita grandeza, com muita solidariedade e com muita responsabilidade, mas jamais como uma heroína. Quando Oskar voltou à Alemanha, Emilie ficou na Argentina. Nesta altura, como era a relação deles? Oskar planejava retornar para a Argentina com uma grande quantidade de dinheiro que teria por cobrar a perda de suas três fábricas. Mas a burocracia alemã o obrigou a postergar seu retorno. A relação dos dois sempre foi com Emilie o respeitando, o querendo, o amando. No entanto, ele a queria à sua maneira, buscando com frequência alguma oportunidade de ter amante. Ela sabia que não se encontrariam mais? Emilie não sabia que jamais o veria novamente, tampouco Oskar sabia. Como Emilie se estabeleceu na Argentina após a partida do marido? Quando Oskar partiu para a Alemanha, em 1957, eles Emilie e Oskar Schindler na área rural da Argentina, onde mantinham uma fazenda no final da década de 1940. Imagem gentilmente cedida pela biógrafa do casal, Erika Rosenberg-Band 52 Aventuras na história “Spielberg escolheu não retratá-la por ser um misógino que não queria a figura de uma mulher em sua produção. E porque não queria pagar os direitos a ela” Erika Rosenberg-Band é escritora argentina filha de judeus de origem alemã, tradutora, intérprete, jornalista e biógrafa de Oskar e Emilie Schindler (de quem foi amiga no fim de sua vida) fotos divulgação tinham 1 milhão de pesos de dívida (algo em torno dos 90 mil dólares). Emilie seguiu trabalhando, mas, em 1962, se viu obrigada a vender o pequeno terreno que tinha para conseguir pagar suas dívidas. Sempre teve dificuldades econômicas, tanto que, quando a conheci, senti o dever de ajudá-la a pagar faturas telefônicas, de gás e telefone. Inclusive lhe paguei um voo de ida e volta à Alemanha e seu enterro. Emilie recebeu algum tipo de reconhecimento por seus atos? Emilie jamais recebeu algum reconhecimento por seus atos. Em 1992, solicitei à Embaixada Alemã que lhe dessem uma condecoração por parte do governo alemão. Em 1994, ela foi condecorada com a Cruz ao Mérito de Cavaleiro, entre outras condecorações que conseguimos conquistar por meio da Argentina e de outros países. Mas, em questões econômicas, nunca recebeu absolutamente nada. Por que você acha que Spielberg escolheu não retratá-la no filme? Ele escolheu não retratá-la, antes de tudo, por ser um misógino que não queria a figura de uma mulher em sua produção. Segundo, porque não queria pagar o que correspondia a ela por direitos próprios [em 1962, pretendiase lançar um filme com a MGM, cujo contrato foi assinado considerando Oskar na Europa e Emilie na Argentina. Assim, ambos teriam direito a 5% dos valores recebidos com o filme. Porém a produção não aconteceu. Anos mais tarde, Oskar morreu, até que um novo contrato surgiu na Universal, em que a Emilie – apesar de viva – não estava incluída e também porque ele estava criando uma história que não era a real. Spielberg publica como história “oficial” e, por isso, não precisa de Emilie, que, aliás, recebeu uma carta como se fosse uma judia salva por Schindler. Ao fim do filme, Spielberg ainda coloca que o matrimônio entre Emilie e Oskar fracassou e que eles terminaram se divorciando. É uma vergonha, realmente, que a produção e Spielberg não tenham investigado que ela era viúva. Em 2011, surgiu a notícia de que o empresário Gary J. Zimet estava tentando negociar uma das “Listas de Schindler” por 3 milhões de dólares. Você foi contra a venda e lutou para que o documento fosse enviado para um museu. Por quê? Acredito que a lista tenha uma importância histórica e merece estar em um museu, e não emoldurado como um quadro na mão de algum empresário rico em uma mansão de Beverly Hills ou de algum outro lugar do mundo.